
Nevralgia da Alma
A dor tempo,
Nevralgia da alma,
Passeia na memória
Das folhas caídas;
Pelos corredores ao ar livre
Do velho cemitério calado,
Onde as vidasJá acabadas,
Repousam sobre o passado...
A dor tempo, nevralgia da alma, passeia pelas folhas
e sementes secas que caíram do alto,
pelas ruas vazias, estreitas, pelas longas ruas sem ninguém,
pelo cantar inocente dos pássaros que se aventuram neste local de vazio
e saudade.
E onde a paz se faz ouvir no silêncio;
no ruído ausente dos vivos.
A dor tempo, nevralgia da alma,
lembra-nos que tudo é tão difícil por ser simples de mais
nós não conseguirmos encontrar a resposta.
E se já a soubemos, já dela nos esquecemos no momento
em que perdemos a inocência da infância.
É essa nevralgia, angústia declarada,
que nos assombra o quotidiano,
essa distração aparentemente estéril
que teimamos em viver porque é o único caminho
que conhecemos ou que queremos conhecer.
O quotidiano, é o jogo didático da nossa espiritualidade,
o caminho mais longo...
Quando olhamos as folhas caídas e o vento a dançar nos ciprestes,
e escutamos lá muito ao longe o ruído do quotidiano,
tudo parece tão simples.
Porque não escolhemos os caminhos a seguir sem esta nevralgia cíclica,
sem todas esta dúvidas...
Tudo é espírito, porque não podemos viver só isso?
Porque existem tantas faces em nós?
Porque existem tantos heterõnimos do mesmo ser?
E porque é que quando pensamos no espírito,
no nosso próprio corpo morto,
tudo se resume a isso mesmo,
à paz da canção do vento revolvendo folhas mortas,
à paz que é estar sem pensar em mais nada,
à paz de uma melodia triste que nos recorda tudo o que perdemos,
mas que nos mostra a luz,
que nos faz sentir aquela pressão soberba sobre o tórax da alma
quando olhamos a luz mais intensa que o Sol
que sabemos não ser o Sol,
mas sim a resposta única de todas as perguntas.
Como se dezenas de perguntas fossem feitas sobre o mar
sendo todas elas respondidas ao olhá-lo pela primeira vez de cima de um penhasco.
A sua magnitude cala-nos porque tudo está lá,
até mesmo aquilo que nunca pensamos pergunta
Preocupamo-nos tanto com aquilo que é tão pouco
e a recompensa é esta nevralgia
constantemente cíclica por vermos que tanto que fazemos é quase em vão.
É carregar pedras às costas depois de termos inventado a roldana.
Pois se sabemos, pelo menos, que caminho não nos agrada tanto seguir
por não nos levar diretamente ao âmago de nós próprios,
porque continuamos assim e não dizemos basta!?...
Basta de tantos dias perdidos.
Fomos traídos pelo Tempo.
O Tempo fez-nos esquecer tanto que supostamente já aprendemos,
fazendo-nos também ele,
aparentemente, começar do princípio...
Será que existe alguém que compreenda o que digo?
Será que existe alguém que conheça a canção do vento,
a luz intensa do sonho, a paz de estar ausente de si próprio
para estar em tudo o que o rodeia?
A paz de estar em tudo?...
E será que existe alguém que nesta dor tempo,
nevralgia da alma,
duvide também que tudo não passa de ilusões do quotidiano?
Pois sendo ele, com princípio e fim,
tudo o que poderemos ter, vida com morte anunciada,
a nossa própria existência será a suprema desilusão.
Esquizofrenia entrecortada por gritos mudos envoltos em ilusão.
Eu
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